Carlos Ribeiro jogou na base, mas
acabou optando pelas quatro rodinhas ao ter uma lesão no pé. Hoje, é o único
brasileiro com contrato com a empresa do lendário P-Rod
Jogar futebol
profissionalmente é o sonho de grande parte dos meninos brasileiros. Alguns
poucos, contudo, conseguem essa oportunidade, mas optam por outros caminhos. Um
deles é Carlos Ribeiro, skatista gaúcho que trilha seu caminho nos EUA. Filho
do ex-zagueiro Luis Carlos, que tem passagens por Juventude, Nacional, Novo
Hamburgo e XV de Novembro, ele defendeu o Cruzeiro em um projeto de categoria
de base em Porto Alegre e também o Novo Hamburgo até que uma lesão no pé fez
com que precisasse escolher entre suas duas paixões, o futebol e o skate. E as
quatro rodinhas bateram a modalidade preferida dos brasileiros.
O
gaúcho, que torce para o Internacional, treina diariamente ao lado de outros
grandes nomes da modalidade na Califórnia, o berço das quatro rodinhas, onde
reside. No começo, contudo, além de ter tido que escolher entre o futebol e o
skate ainda criança, precisou superar a rejeição dos avós pelo esporte radical.
Hoje eles sentem orgulho de onde o menino, agora com 23 anos, chegou, e até se
interessam pelos seus feitos. Costumam assistir aos vídeos que ele produz, por
exemplo.
- Meu
pai foi zagueiro e me colocou na escolinha. Ele tinha esse sonho e me revelou
que, no início, sentiu um pouco eu ter deixado. Mas me incentivou demais no
skate. Eu era meia-esquerda e, na base, torci o pé e fiquei sem poder andar de
skate. Aí pensei: "Putz, skate ou futebol?". Decidi pelo skate. Meus
avós eram contra, achavam ridículo e perguntavam aos meus pais: "Por que
vocês deixam ele andar?". Agora eu falo que vou para a China e acham
legal. Mostro os meus vídeos para eles, eles curtem e brincam: "Como você
não se quebra todo?" - se diverte o skatista da modalidade street ao
lembrar de sua família, que mora em Porto Alegre, e que ele reencontra a cada "quatro
ou cinco meses" e, claro, nas festas de fim de ano, como Natal e
Réveillon.
Carlos é hoje
um dos nomes do país que se destaca no exterior. Em abril do ano passado, se
tornou o primeiro brasileiro a fechar contrato com a Primitive Skateboarding,
marca de shapes (prancha de madeira) do lendário Paul Rodriguez Jr., o P-Rod,
tetracampeão dos X Games (fora as três medalhas de prata e uma de bronze) e
vencedor de etapas da Street League Skateboarding (SLS). Recentemente, ele
chamou atenção da empresa americana Nike, que o levou para seu time de elite de
skatistas, com nomes como o próprio Paul, além de seu compatriota, o fenômeno
Luan Oliveira. Aliás, o jovem esportista conta que está tendo a oportunidade de
se aproximar de suas referências na Califórnia. Mesmo assim, garante que mantém
seu próprio estilo.
- Paul me
ajudou desde o primeiro dia em que o vi nos EUA. Fui apresentado, ele me chamou
para andar e me deu shapes. No fim de 2013, o sócio dele me disse que o Paul
iria fazer uma marca e queria que eu entrasse. Fazer parte de algo vindo do
Paul é sensacional. Ele é um ídolo. Acho que isso foi acontecendo ao
longo da carreira. Cezar Gordo era meu ídolo e comecei a andar com ele. Rodrigo
Petersen também e virou meu amigo. Minhas referências se tornaram meus amigos,
mas acho que cada skatista tem o seu estilo, é algo único. Reflete alguma coisa
por você gostar de alguém. Me sinto lisonjeado de andar com eles. Se eu pensar
como era minha cabeça com 15 anos, meus sonhos, é muito bacana ver onde cheguei
hoje - comentou.
Apesar
de já estar alçando voos altos, Carlos ainda é amador. Ou seja, não passou pelo
rito de ganhar um shape com seu nome de um patrocinador para se tornar
profissional. Vivendo exclusivamente do skate atualmente, ele afirma que a
mudança de status, que está para acontecer em breve, não fará tanta diferença
assim para sua carreira, apesar de dizer que será bacana ver seu nome na
pranchinha.
- Já
foi dito que vou virar profissional. Estou trabalhando em um vídeo. Uma parte
vai sair na internet, sem nenhuma marca. Outra vai ser da Primitive, só minha.
E depois um que, junto com o shape, vai me lançar no profissional. Mas, na
realidade, desde que comecei a entrar mais no skate, meu sonho era viajar o
mundo e viver disso. Por isso, hoje eu já me sinto realizado - relatou.
As viagens,
aliás, são algo que traz muito prazer a Carlos. Com apenas 16 anos, foi sozinho
para a Europa. Foi a primeira vez que saiu do país por causa do skate. Na
época, "meio sem grana" e quase sem falar inglês, participou de um
vídeo chamado "Place for Everybody", uma produção brasileira feita em
Barcelona, na Espanha, e se destacou. Acabou fechando com uma marca brasileira
e passou a ir mais para o Velho Continente, principalmente para a cidade
catalã, um dos principais picos do street no planeta. Em 2011, foi a primeira
vez para a Califórnia.
A
intenção era passar um mês. Mas ele conheceu Paul Rodriguez e se aproximou da
nata do skate. Acabou sendo convidado por um cinegrafista para produzir um
vídeo no "berço" das quatro rodinhas. Ficou três meses e saiu de lá
com mais um patrocinador. Hoje, mora nos EUA. Recentemente, teve a chance de
viajar para duas vezes para a China, um "paraíso do skate". O gaúcho
esteve em duas cidades, Shenzhen e Guangzhou. Além disso, passou também pelo
Chipre.
-
Quando vi "Ciprus" ("Chipre", em inglês) no email com a
passagem, pensei: "Caramba, que lugar é esse?". Isso é bom demais. E
a China é perfeita para o skate de rua. Tem muita história. Quase todo o time
que estava comigo lá ficou com alguma virose. Eu peguei uma no último dia,
voltei o voo inteiro, 15h, passando mal. Mas valeu a pena. É um mundo
totalmente diferente, você não se comunica com ninguém, fica na bolha com seus
amigos só andando de skate. Vem a polícia e pode estar falando que você está
preso agora e você não está nem aí - brincou o skatista, mais do que certo da
escolha que fez entre as quatro rodinhas e o futebol quando criança.
Por: redação
Fonte: nakalada
Foto: divulgação