sábado, 14 de fevereiro de 2015

Filho de ex-jogador que preferiu skate ao futebol se torna referência nos EUA

Carlos Ribeiro jogou na base, mas acabou optando pelas quatro rodinhas ao ter uma lesão no pé. Hoje, é o único brasileiro com contrato com a empresa do lendário P-Rod

Jogar futebol profissionalmente é o sonho de grande parte dos meninos brasileiros. Alguns poucos, contudo, conseguem essa oportunidade, mas optam por outros caminhos. Um deles é Carlos Ribeiro, skatista gaúcho que trilha seu caminho nos EUA. Filho do ex-zagueiro Luis Carlos, que tem passagens por Juventude, Nacional, Novo Hamburgo e XV de Novembro, ele defendeu o Cruzeiro em um projeto de categoria de base em Porto Alegre e também o Novo Hamburgo até que uma lesão no pé fez com que precisasse escolher entre suas duas paixões, o futebol e o skate. E as quatro rodinhas bateram a modalidade preferida dos brasileiros.



O gaúcho, que torce para o Internacional, treina diariamente ao lado de outros grandes nomes da modalidade na Califórnia, o berço das quatro rodinhas, onde reside. No começo, contudo, além de ter tido que escolher entre o futebol e o skate ainda criança, precisou superar a rejeição dos avós pelo esporte radical. Hoje eles sentem orgulho de onde o menino, agora com 23 anos, chegou, e até se interessam pelos seus feitos. Costumam assistir aos vídeos que ele produz, por exemplo.

- Meu pai foi zagueiro e me colocou na escolinha. Ele tinha esse sonho e me revelou que, no início, sentiu um pouco eu ter deixado. Mas me incentivou demais no skate. Eu era meia-esquerda e, na base, torci o pé e fiquei sem poder andar de skate. Aí pensei: "Putz, skate ou futebol?". Decidi pelo skate. Meus avós eram contra, achavam ridículo e perguntavam aos meus pais: "Por que vocês deixam ele andar?". Agora eu falo que vou para a China e acham legal. Mostro os meus vídeos para eles, eles curtem e brincam: "Como você não se quebra todo?" - se diverte o skatista da modalidade street ao lembrar de sua família, que mora em Porto Alegre, e que ele reencontra a cada "quatro ou cinco meses" e, claro, nas festas de fim de ano, como Natal e Réveillon. 


Carlos é hoje um dos nomes do país que se destaca no exterior. Em abril do ano passado, se tornou o primeiro brasileiro a fechar contrato com a Primitive Skateboarding, marca de shapes (prancha de madeira) do lendário Paul Rodriguez Jr., o P-Rod, tetracampeão dos X Games (fora as três medalhas de prata e uma de bronze) e vencedor de etapas da Street League Skateboarding (SLS). Recentemente, ele chamou atenção da empresa americana Nike, que o levou para seu time de elite de skatistas, com nomes como o próprio Paul, além de seu compatriota, o fenômeno Luan Oliveira. Aliás, o jovem esportista conta que está tendo a oportunidade de se aproximar de suas referências na Califórnia. Mesmo assim, garante que mantém seu próprio estilo.

- Paul me ajudou desde o primeiro dia em que o vi nos EUA. Fui apresentado, ele me chamou para andar e me deu shapes. No fim de 2013, o sócio dele me disse que o Paul iria fazer uma marca e queria que eu entrasse. Fazer parte de algo vindo do Paul é sensacional. Ele é um ídolo.  Acho que isso foi acontecendo ao longo da carreira. Cezar Gordo era meu ídolo e comecei a andar com ele. Rodrigo Petersen também e virou meu amigo. Minhas referências se tornaram meus amigos, mas acho que cada skatista tem o seu estilo, é algo único. Reflete alguma coisa por você gostar de alguém. Me sinto lisonjeado de andar com eles. Se eu pensar como era minha cabeça com 15 anos, meus sonhos, é muito bacana ver onde cheguei hoje - comentou.

Apesar de já estar alçando voos altos, Carlos ainda é amador. Ou seja, não passou pelo rito de ganhar um shape com seu nome de um patrocinador para se tornar profissional. Vivendo exclusivamente do skate atualmente, ele afirma que a mudança de status, que está para acontecer em breve, não fará tanta diferença assim para sua carreira, apesar de dizer que será bacana ver seu nome na pranchinha.
- Já foi dito que vou virar profissional. Estou trabalhando em um vídeo. Uma parte vai sair na internet, sem nenhuma marca. Outra vai ser da Primitive, só minha. E depois um que, junto com o shape, vai me lançar no profissional. Mas, na realidade, desde que comecei a entrar mais no skate, meu sonho era viajar o mundo e viver disso. Por isso, hoje eu já me sinto realizado - relatou.


As viagens, aliás, são algo que traz muito prazer a Carlos. Com apenas 16 anos, foi sozinho para a Europa. Foi a primeira vez que saiu do país por causa do skate. Na época, "meio sem grana" e quase sem falar inglês, participou de um vídeo chamado "Place for Everybody", uma produção brasileira feita em Barcelona, na Espanha, e se destacou. Acabou fechando com uma marca brasileira e passou a ir mais para o Velho Continente, principalmente para a cidade catalã, um dos principais picos do street no planeta. Em 2011, foi a primeira vez para a Califórnia.

A intenção era passar um mês. Mas ele conheceu Paul Rodriguez e se aproximou da nata do skate. Acabou sendo convidado por um cinegrafista para produzir um vídeo no "berço" das quatro rodinhas. Ficou três meses e saiu de lá com mais um patrocinador. Hoje, mora nos EUA. Recentemente, teve a chance de viajar para duas vezes para a China, um "paraíso do skate". O gaúcho esteve em duas cidades, Shenzhen e Guangzhou. Além disso, passou também pelo Chipre.

- Quando vi "Ciprus" ("Chipre", em inglês) no email com a passagem, pensei: "Caramba, que lugar é esse?". Isso é bom demais. E a China é perfeita para o skate de rua. Tem muita história. Quase todo o time que estava comigo lá ficou com alguma virose. Eu peguei uma no último dia, voltei o voo inteiro, 15h, passando mal. Mas valeu a pena. É um mundo totalmente diferente, você não se comunica com ninguém, fica na bolha com seus amigos só andando de skate. Vem a polícia e pode estar falando que você está preso agora e você não está nem aí - brincou o skatista, mais do que certo da escolha que fez entre as quatro rodinhas e o futebol quando criança.


Por: redação
Fonte: nakalada
Foto: divulgação


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