Os bairros
populares e as comunidades rurais se recriam numa relação complexa e dicotômica
entre o contraste do crescimento urbano e as demandas sociais, entre ausência
das políticas públicas ou a insuficiência delas, no duelo entre a sobrevivência
e a falta de qualidade de vida, na improvisação e apropriação dos espaços e na
diversidade organizativa, simbólica, esportiva e de lazer.
Nesta paisagem
conflitante de exclusão e inclusão constantemente recriada, o povo se reinventa
e cria formas criativas de ocupação dos seus lugares e canais de interlocução
com outros espaços e pessoas, criando um circuito marcado pela invisibilidade,
resistência e colaboração comunitária.
Existe um circuito
nas periferias e zonas rurais que merece ser compreendido e “desinvibilizado”
no sentido de ampliar as vozes de oprimidos e explorados, de impulsionar as
lutas pela ampliação, consolidação e conquistas dos direitos negados.
Ao mesmo tempo é
preciso compreender como ocorre o processo de infiltração da indústria cultural
voltado ao processo de alienação e embrutecimento cultural ofertado pelas
elites do mercado para acumulo do capital. Que mecanismos de envolvimento são
utilizados por essa indústria? Quais os elementos de pertencimento e
empoderamento que ela cria?
Por outro lado não
podemos deixar de refletir sobre o percurso do “Circuito Oficial das Artes”, a
quem se destina? Quais os espaços ocupados por esse circuito? E como as camadas
populares se veem dentro deste circuito?
É dentro desse
emaranhado de questionamentos que podemos perceber a relação de antagonismo da
luta de classes, de um lado a elite econômica criando os seus mecanismos
ideológicos de manutenção e do outro lado, uma leva de artistas criando espaços
de circulação artística restritos e afinados com os interesses desta mesma
elite, logicamente isso não ocorre por acaso , mas dentro de compreensão
mercadológica de arte e de seus consumidores e da legitimação do status
quo.
Enquanto isso, o
circuito negado das periferias e zonas rurais assumem características
particulares de organização, produção e circulação, baseado em relações de
identidade, pertencimento e empoderamento comunitário.
O movimento de
quadrilhas juninas, o hip hop, os grupos da tradição, as fanfarras, os jogos de
futebol, a capoeira, a malhação dos Judas, as festas religiosas são exemplos de
experiências organizativas que estão dentro de um circuito, em que a
criatividade, a improvisação, a colaboração, o autofinanciamento e formas
alternativas de sustentabilidade são características deste circuito que
consegue fomentar, circular, registrar a sua memória e se divulgar.
A engenharia social
das periferias e das zonas rurais é gestada nas experiências cotidianas do povo
e legitimadas a partir da pratica social comunitária. A expressão “o povo
entende da sua quebrada” nos levar a apontar outra questão fundamental, o povo
conhece a sua realidade social, as suas dificuldades e os seus sonhos.
Entretanto isso não é suficiente! É necessário democratizar a qualidade de vida
da população.
Entender esse
circuito, é pensar a partir das vozes sufocadas de oprimidos e explorados, é
legitimar (os já legitimados) pensadores, inventores e construtores das
“quebradas” urbanas e rurais e perceber que a construção deste circuito não se
separa da luta pela sobrevivência. Não só de brilhos e elogios vivem os seres
humanos é preciso atender as suas necessidades fundamentais para uma vida
socialmente saudável.
*Pedagogo,
artista/educador e coordenador do Coletivo Camaradas
Prof. Alexandre Lucas
(88)96616516 - Whatsapp
Email: alexandrelucasssilva@gmail.com
Portfólio: http://www.portfolioalexandrelucas.blogspot.com.br/
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