quarta-feira, 27 de maio de 2015

Existe um circuito oficial das quebradas, negado!

Os bairros populares e as comunidades rurais se recriam numa relação complexa e dicotômica entre o contraste do crescimento urbano e as demandas sociais, entre ausência das políticas públicas ou a insuficiência delas, no duelo entre a sobrevivência e a falta de qualidade de vida, na improvisação e apropriação dos espaços e na diversidade organizativa, simbólica, esportiva e de lazer.  

Nesta paisagem conflitante de exclusão e inclusão constantemente recriada, o povo se reinventa e cria formas criativas de ocupação dos seus lugares e canais de interlocução com outros espaços e pessoas, criando um circuito marcado pela invisibilidade, resistência e colaboração comunitária.     

Existe um circuito nas periferias e zonas rurais que merece ser compreendido e “desinvibilizado” no sentido de ampliar as vozes de oprimidos e explorados, de impulsionar as lutas pela ampliação, consolidação e conquistas dos direitos negados.

Ao mesmo tempo é preciso compreender como ocorre o processo de infiltração da indústria cultural voltado ao processo de alienação e embrutecimento cultural ofertado pelas elites do mercado para acumulo do capital. Que mecanismos de envolvimento são utilizados por essa indústria? Quais os elementos de pertencimento e empoderamento que ela cria?  

Por outro lado não podemos deixar de refletir sobre o percurso do “Circuito Oficial das Artes”, a quem se destina? Quais os espaços ocupados por esse circuito? E como as camadas populares se veem dentro deste circuito?

É dentro desse emaranhado de questionamentos que podemos perceber a relação de antagonismo da luta de classes, de um lado a elite econômica criando os seus mecanismos ideológicos de manutenção e do outro lado, uma leva de artistas criando espaços de circulação artística restritos e afinados com os interesses desta mesma elite, logicamente isso não ocorre por acaso , mas dentro de compreensão mercadológica de arte e de seus  consumidores e da legitimação do status quo.   

Enquanto isso, o circuito negado das periferias e zonas rurais assumem características particulares de organização, produção e circulação, baseado em relações de identidade, pertencimento e empoderamento comunitário.

O movimento de quadrilhas juninas, o hip hop, os grupos da tradição, as fanfarras, os jogos de futebol, a capoeira, a malhação dos Judas, as festas religiosas são exemplos de experiências organizativas que estão dentro de um circuito, em que a criatividade, a improvisação, a colaboração, o autofinanciamento e formas alternativas de sustentabilidade são características deste circuito que consegue fomentar, circular, registrar a sua memória e se divulgar.

A engenharia social das periferias e das zonas rurais é gestada nas experiências cotidianas do povo e legitimadas a partir da pratica social comunitária. A expressão “o povo entende da sua quebrada” nos levar a apontar outra questão fundamental, o povo conhece a sua realidade social, as suas dificuldades e os seus sonhos. Entretanto isso não é suficiente! É necessário democratizar a qualidade de vida da população. 

Entender esse circuito, é pensar a partir das vozes sufocadas de oprimidos e explorados, é legitimar (os já legitimados) pensadores, inventores e construtores das “quebradas” urbanas e rurais e perceber que a construção deste circuito não se separa da luta pela sobrevivência. Não só de brilhos e elogios vivem os seres humanos é preciso atender as suas necessidades fundamentais para uma vida socialmente saudável.  



*Pedagogo, artista/educador e coordenador do Coletivo Camaradas 
Prof. Alexandre Lucas 
(88)96616516  - Whatsapp 
Email: alexandrelucasssilva@gmail.com 
Portfólio:  http://www.portfolioalexandrelucas.blogspot.com.br/

Por: Alexandre Lucas
Fonte: Prof. Alexandre Lucas 
Foto: divulgação

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