Especialistas explicam as causas e as
forma de evitar e tratar o problema
Sabe o que é a síndrome de
overtraining? Trata-se de um problema que ocorre quando o atleta faz mais
exercícios do que seu corpo é capaz de se recuperar. Ao tentar melhorar o
desempenho em treinamentos e provas, os corredores exageram no volume da
atividade física sem ter o descanso adequado e escolhem uma dieta
incorreta. As consequências, no entanto, vão da ordem muscular, passando
por problemas nas articulações, e resultam em malefícios no sistema imunológico
e no aspecto psicológico do corredor.
CAUSAS E PREVENÇÕES
Acredita-se que a gênese da síndrome de overtraining esteja diretamente
relacionada com uma estratégia de treino denominada "teoria da
supercompensação", que se fundamenta no princípio da sobrecarga
progressiva. Essa teoria afirma que as reservas energéticas gastas durante o
processo de contração muscular são repostas apenas no período de recuperação,
ou seja, de descanso.
Exercícios intensos podem causar problemas graves em mulheres
Segundo o preparador físico Manuel Lago, o overtraining tem uma
incidência maior em corredores de média e longa distância e implica em
problemas das mais diversas ordens, como insônia, lesões agudas e crônicas, o
sistema hormonal se desequilibra, irritabilidade, diminuição da performance e
alteração da pressão arterial.
- Além dos problemas nos treinos, vai interferir em várias coisas que
afetam a qualidade de vida. Para evitar o overtraining, é essencial
obedecer seu treinador. Como forma de prevenir, o atleta precisa conhecer cada
vez mais seu corpo, identificando sensações como preguiça, cansaço, exaustão
para saber avaliar melor, o seu rendimento no treino - disse Manuel Lago, que
acrescenta: o problema pode ser leve, moderado ou severo.
O especialista explica a diferença entre treino forte e overtraining:
TREINO FORTE
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OVERTRAINING
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VOCÊ NÃO É CAPAZ DE SAIR PARA TREINAR FORTE, O CORPO
'RECLAMA' DO AQUECIMENTO AO FINAL DA ATIVIDADE. NA MAIORIA DAS VEZES, O
ATLETA NEM CONSEGUE COMEÇAR A PARTE PRINCIPAL DO TREINO
|
As causas fisiológicas e metabólicas:
- Elevação do nível do cortisol (hormônio que quebra o tecido muscular para
forma energia);
- Déficit proteico;
- O catabolismo (reações de quebra de moléculas para produzir energia) supera o
anabolismo (reações de síntese de substâncias);
- Estresse no sistema nervoso central provocando distúrbios hormonais (ver
coluna sobre
a tríade da mulher atleta que eu escrevi para o site);
- Tempo insuficiente para reparar os micro-traumas no músculo esquelético
provocados pelo exercício.
Problemas que o overtraining traz aos atletas:
- Perda de condicionamento físico com perda de força e resistência;
- Dor muscular persistente;
- Sensação de fadiga crônica;
- Elevação significativa da frequência cardíaca em repouso (este é um sinal bem
típico);
- Mudança de humor com quadro de depressão e irritabilidade;
- Queda da resistência imunológica;
- Perda da qualidade do sono.
COMO TRATAR
De acordo com o fisiologista Turibio Barros, o tratamento do
overtraining é obrigatoriamente a redução drástica do treino ou em casos mais
graves a interrupção da atividade física e das competições. Quando o atleta
busca bons resultados e melhor qualidade de vida, ele deve ter acompanhamento
de um médico, profissional de educação física, nutricionista e também um
fisioterapeuta. Sendo diagnosticado em tempo, sem que haja complicações mais
sérias, principalmente as provocadas pelos distúrbios hormonais, o quadro
felizmente é reversível.
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ALIMENTAÇÃO BALANCEADA
O melhor meio, portanto, de se evitar o overtraining é não permitindo
que ele apareça. Além de não extrapolar seus limites nas pistas, é importante
descansar bem entre uma atividade e outra e manter uma alimentação balanceada,
como explica a nutricionista Cristiane Perroni.
Fazer dieta sem acompanhamento nutricional representa risco à saúde
A alimentação equilibrada é fundamental: hidratação, ingestão de todo os
grupos, individualizada para cada esporte e período de treinamento, se
preocupando com os alimentos no pré-treino, durante e após (recuperação).
Dietas restritivas, desequilibradas e com baixa ingestão de carboidratos
agravam o overtraining. Confira:
- Frutas, verduras e legumes: são fontes de vitaminas e
minerais que participam de processos celulares relacionados ao metabolismo
energético; contração, reparação e crescimento tecidual e muscular; defesa
antioxidante, resposta imune, ritmo cardíaco, condução do impulso nervoso,
transporte de oxigênio e saúde óssea. Apesar de sua relativa escassez na dieta
e no organismo, os minerais e as vitaminas são os principais reguladores da
saúde e das funções orgânicas.
- Carboidratos: o metabolismo de carboidratos tem papel crucial no
suprimento de energia para atividade física. No exercício de alta intensidade,
a maioria da demanda energética é suprida pela energia da degradação dos
carboidratos, disponíveis para o organismo através da dieta e são armazenados
no nosso corpo em forma de glicogênio muscular e hepático. Sua falta leva à
fadiga.
- Proteínas: elas também ajudam na reposição das reservas de glicogênio
nos músculos e no fígado, que são bastante utilizadas durante a atividade
física, esta ingestão deve acontecer junto com alimentos que são fonte de
carboidratos . A associação de carboidratos com proteínas é muito importante
para a recuperação do treino, repondo as reservas de glicogênio muscular e
sendo fonte de aminoácidos essenciais. A maior absorção acontece até duas horas
após a atividade física. Ingerir pouca proteína faz com que o corpo não se
recupere nos treinos, mas o excesso pode levar a problemas renais e doenças
cardiovasculares.
Pode ser necessário a suplementação de alguns nutrientes como:
- Glutamina: regulação
da síntese proteica inibe o catabolismo muscular, a participação no sistema
imune e nas células intestinais. A suplementação oral de glutamina falha em
induzir a elevação na sua concentração plasmática, pois as células do epitélio
intestinal consomem a maior parte deste aminoácido, entretanto esta suplementação
poupa a glutamina do corpo (endógena), aumentando a disponibilidade deste
aminoácido para outros tecidos.
- Ômega 3: ação antiinflamatória e estimulação do sistema imune.
- BCAA (aminoácidos
de cadeia ramificada) reequilibram a quantidade de triptofano, diminuindo a
síntese de serotonina evitando a fadiga central, recuperação muscular.
- Bebidas isotônicas/jujubas ou gel de carboidratos: repositores de glicose, sódio e potássio.
RELATO DO CORREDOR
O paulista Jorge Kalmus foi diagnosticado com overtraining há quase dois
anos. Ele conta que exagerou na intensidade dos treinos para uma maratona e
sofre com o problema até hoje. O resultado: não tem o desempenho de antes.
- Eu corro desde setembro de 2006, quando fiz a estreia numa maratona de
revezamento. Até agora, já corri cerca de 80 provas, desde 5km de distância até
a maratona. Foi na preparação para uma maratona que fiz em outubro de 2011 que
tive o diagnóstico de overtraining. Não senti dores, meu grande problema foi
perda de rendimento. A sensação que eu tinha era de que, quanto mais eu
treinava, pior era meu rendimento. Tentei diminuir a carga de treinos e não
tive resultado. Fui aconselhado pelo treinador a não fazer a maratona, porém,
por motivos pessoais, decidi manter os treinamentos e realizar a prova. O
resultado foi muito ruim, fiz a prova com um tempo muito alto (mais de cinco
horas). Mesmo treinando triatlo, ainda tenho dificuldades para correr não
obtendo os resultados que tinha anteriormente - contou Jorge, de 48 anos.
Por: Igor Christ Rio de Janeiro
Fonte: globoesporte