quinta-feira, 9 de maio de 2013

Polêmica, vencedora e musa, Leticia Bufoni quer mudar a cara do skate

De rímel, batom e tatuagem, paulistana de 20 anos lidera o ranking mundial na modalidade street
Por baixo do boné preto de aba reta, vê-se o cabelo loiro e escovado de Leticia Bufoni. Líder do ranking mundial na modalidade street há três anos, a “musa do skate” acaba de voltar de Foz do Iguaçu, onde venceu uma etapa do X Games, a Olimpíada dos esportes radicais. A atleta, de rímel e batom, diz que se esforça para ser vaidosa: “Quero mudar a cara do skate feminino”.Leticia começou a andar de skate com 10 anos de idade, nas ruas da Vila Matilde, zona leste de São Paulo. “É sempre difícil ver alguma menina nas pistas de skate e eu sofri muito preconceito. As vizinhas ficavam o dia todo me chamando de ‘Maria-homem’”. Para o pai, dono de uma fábrica de produtos médicos, foi difícil aceitar o novo hobby de Leticia, que fugia do castigo para andar de skate. Numa noite, ele chegou a cortar o skate da filha na metade. No outro dia de manhã, ela já estava montando outro.  
Leticia andava com um grupo de mais de dez meninos do bairro, do qual foi a única a levar o esporte adiante. “Quando eu andava melhor que eles, a gente brigava, discutia, saía na mão. Sempre fui aceita no grupo, mas de vez em quando eles me mandavam brincar de barbie”.Filha do meio, é a única da família a praticar esporte. Tem duas irmãs, uma formada em Direito e outra em Química. O irmão mais novo ainda está na escola e é “do tipo nerd, gosta de computador”.  “Para eles, o estudo é a coisa mais importante. Comigo foi completamente diferente”, diz Leticia, que abandonou o segundo colegial para seguir a carreira de atleta. “Eu estava prestes a ser expulsa da escola, de tanta falta que eu tinha. Não dava para estudar e viajar. Se eu não viajasse com meus patrocinadores, perdia o patrocínio. Se eu não fosse aos campeonatos, saía do mundo do skate. Tive que fazer uma escolha e faculdade eu posso fazer com qualquer idade, né?”.Leticia venceu logo o primeiro campeonato de sua vida e começou a conquistar o apoio dos pais. “Eu tinha uns 11 anos e era um campeonato estadual da Nike. Tinham várias famílias lá e meu pai viu que não era esporte de ‘nóia’. Foi aí que ele começou a me levar em todos os campeonatos”. Aos 12 anos, foi vista em um campeonato e conseguiu um patrocínio, da marca de tênis Plasma. Com 14, competiu o seu primeiro X Games, em Los Angeles. “Competi com skatistas de 20 e poucos, 30 anos”.  Hoje com 20, Letícia ainda costuma ser a mais nova nas competições. Depois do primeiro X Games, decidiu que seguiria a carreira de atleta e se mudou para a Califórnia, onde passou a viver com skatistas brasileiras mais velhas, como Lisa Araújo. “Já tinha ganhado tudo de mais importante no Brasil. Por isso que quis ir para lá. Conheci elas num turnê de skate e aí começaram a mandar fotos e vídeos de mim para os Estados Unidos, dizendo que eu tinha de participar do X Games. Elas que cuidavam de mim, mas desde os 12 eu ganho meu salário e sei me virar. Eu não tava nem aí de ir morar em outro país, não saber falar a língua. Era uma criança e só pensava em andar de skate”.Se tivesse nascido na praia, teria sido surfista, diz ela. Mas antes do skate, ainda houve o futebol. Leticia jogou bola até o dia em que não conseguiu mais conciliar isso ao skate. Com 13 anos, ela chegou a ser convidada para fazer um teste no Juventus, para o qual nem apareceu. “Se eu passasse, teria que treinar todos os dias, das 13h às 18h. Teria que desistir do skate, então não fui”.
Graças à bolsa-atleta internacional e aos diversos patrocínios, Leticia vive do skate e leva a vida que sempre sonhou. A atleta aponta para praticamente cada peça no corpo, enquanto enumera os seus patrocinadores: roupa da Volcom, tênis da Osiris,  relógio da Nixon,  óculos da Oakley e  boné da TNT.  As rodinhas do skate da Bones Wheels, o shape da Paradox Grip e o eixo, da Crail Trucks . Além disso, recebe apoio da Keep a Breast, fundação de prevenção ao câncer de mama. O acessório que tornou-se marca registrada de Leticia, no entanto, não é nenhum desses. A skatista sempre compete de bandana, para prender os cabelos longos. Começaram a chamá-la de Axl Rose e hoje Leticia tem o rosto do cantor da Guns N’Roses tatuado na batata da perna. Além dessa tatuagem,  tem outras sete espalhadas pelo corpo: “Por mim, eu tatuava os braços todinhos”. Leticia ri e mostra uma que fez do lado de dentro da boca, no lábio inferior, escrito “F....-se”. 
Em 2010, depois de ficar com a medalha de prata no X Games XVI, a paulistana conquistou o primeiro lugar no Maloof Money Cup, um dos campeonatos de skate mais importantes do mundo. Com apenas 17 anos na época, Leticia ganhou U$25 mil (aproximadamente R$ 50 mil) pela vitória, uma das maiores premiações para uma competição de skate feminina.
“É o maior nome do skate feminino no Brasil, com toda certeza”, diz Bob Burnquist, que também conseguiu medalha de ouro na etapa do X Games em Foz do Iguaçu. “Ela anda muito. Se fosse fazer uma sessão de street com a Leticia, ela andaria muito mais do que eu”. O skatista brasileiro não poupa elogios: “O street é um meio muito crítico. Para conseguir respeito, você tem que ter atitude, personalidade. Ela mostra uma fluidez, tem um estilo bonito de ser ver, artístico. Ela tem um estilo agressivo, mas feminino também”.
Para Leticia, o ouro no X Games no Brasil foi uma das conquistas mais importantes de sua carreira. Voltando de uma lesão no tornozelo, estava sem andar de skate há um mês. Recebeu alta do médico e voltou a praticar dois dias antes da competição, ainda sentindo dor. Não completamente recuperada, viajou com o fisioterapeuta e enfaixou o pé para tentar deixá-lo mais firme durante a competição. “Na hora não senti dor nenhuma, nunca fiquei tão nervosa em toda a minha vida. Foi a primeira vez que eu me machuquei, estava com medo de errar alguma manobra e virar o pé. Ainda por cima foi aqui no Brasil, com toda aquela história de favoritismo. Costumo me controlar ao máximo, mas dessa vez fiquei com dor de barriga e perna bamba na hora de competir. Mas deu tudo certo e, depois de bater na trave tantas vezes, finalmente consegui ficar em primeiro”.
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Por: Manuela Azenha
Fonte: foxsports
Foto: divulgação

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