Como o crescimento do esporte em BH está
influenciando o estilo da nova geração de skatistas, que começa a aprender cada
vez mais cedo
Bochechas
vermelhas, gotas de suor pelo rosto, mãos sujas e alguma espécie de machucado.
É assim que jovens skatistas chegam em casa há pelo menos três gerações. Os
equipamentos, as bermudas e os tênis mudaram, mas o espírito radical perdura.
Ladeiras, rampas, barras de ferro e a possibilidade de se machucar em todas
elas não intimidam quem curte skate. Tomás Piuzana tem 11 anos e essa é sua
nova paixão. Sempre muito dedicado à prática de esportes, ele trocou as aulas
de judô por capacete, cotoveleiras e um belo skate. “Ele já era faixa laranja,
quando resolveu sair. Eu fiquei um pouco apreensiva e insisti para ele não
deixar o judô, mas ele é um menino muito centrado, dedicado, e esporte é sempre
muito saudável. Resolvi apoiar o novo hobby dele”, revela a mãe, Regina
Piuzana. Ela conta ainda que Tomás tem andado tão empolgado, que brinca com seu
skate-finger (skate de dedo) na pia do banheiro, nas paredes e pela casa afora.
A mesma empolgação tem Bruno González, o mais novinho da turma, que, aos 6 já
aprende as primeiras manobras radicais, mesmo precisando ainda da ajuda do
professor Luizinho para descer a rampa.
Também mãe de
um pequeno skatista, Keila Braga descreve bem a paixão do filho, Guilherme
Alongi, de 7 anos. “Nenhuma atividade estava mais consumindo a energia do
Guilherme. Do futebol ele chegava suado. Mas do skate, ele chega pingando! E os
tênis? É questão de 30 dias para um par se esgotar”, conta. Uma das vantagens
do esporte, segundo Keila, é o fato de a prática diminuir o tempo do filho na frente
da televisão e do computador.
Aline
Dias, professora de educação física e mestre em lazer, concorda: “Se é skate,
basquete ou natação, não importa. Fundamental é que seja um esporte com o qual
a criança se identifique, sinta prazer, e que seja significativo para ela”. A
profissional lembra que é cientificamente comprovado que a prática regular de
esportes pode auxiliar no desenvolvimento cognitivo das crianças, na percepção
sensorial e psicomotora, além de possibilitar momentos de maior interação
social, aprendizagem de princípios e valores. “O esporte, inclusive, pode se
tornar um importante aliado dos pais no combate à obesidade infantil e ao
sedentarismo”, completa Aline Dias.
Como
quase todo esporte, o skate tem seu próprio universo. As bermudonas de cor
escura, camisetas que parecem um número maior que o necessário, tênis pesadões
(que assustam as mães, mas facilitam a aderência à prancha), e um vocabulário
bem peculiar. Ollie, goofy, board e fakie são termos que você precisa aprender
para entender o skate. Para isso, basta assistir a um episódio de Zeke &
Luther. Transmitido por um canal pago, a série de TV é a mais nova febre entre
a garotada e mostra a rotina e as aventuras de dois skatistas adolescentes.
Bernardo
Basques tem apenas 6 anos e muita disposição. Ele também é fã de Zeke &
Luther, e aproveita os episódios para tentar aprender as manobras realizadas
pelos personagens: “Eu ainda não sei fazer muitas manobras, mas meu primo já me
ensinou a tirar o skate do chão”, diz. Aos 12 anos, Guilherme Lyra já faz
manobras de gente grande. Ele conta que seu pai, o presidente da Mannesmann,
Alexandre Lyra, costumava ir para a universidade, na Alemanha, de bicicleta.
“Eu também pretendo estudar fora, mas quero ir para a minha faculdade de
skate”, planeja Guilherme.
Muitos
meninos praticam em casa ou no playground dos prédios durante a semana. Mas aos
sábados e domingos, as opções são mais legais. Belo Horizonte tem redutos
antigos de skate, arranhados por gerações de rodinhas, como o bowl do Anchieta
e o do Nova Floresta. Desde 2009, o Parque das Mangabeiras abriga uma das
maiores pistas do estado. Um belo-horizontino ilustre, hoje um skatista
quarentão, curtiu o novo espaço. John Ulhoa, do Pato Fu, conta: “Vou à pista do
Parque das Mangabeiras de seis em seis meses, e volto todo quebrado. Encontro
meus amigos da antiga por lá, e vejo a molecada nova andando também. É uma
pista muito bem feita, do tipo que sempre quis que tivesse em BH. Só apareceu
depois que parei... então voltei!”.
Outro veterano é o proprietário da Blunt Skate Park, Maurício Massote.
Ele começou aos 5 anos, em 1983, e fala com orgulho sobre a evolução
tecnológica do esporte. Para ele, os equipamentos de segurança melhoraram
bastante desde sua geração: “As joelheiras, cotoveleiras, capacetes ficaram
menores e mais eficientes”.
Para
gente grande
É diversão para os pequenos, mas para os mais crescidinhos já virou
profissão. E com carteira assinada! O belo-horizontino Jarbas Alves, “Jay
Alves” para os conhecedores, é skatista profissional patrocinado pela
Converse. Ele começou arriscar as primeiras manobras aos 14 anos e hoje, aos
26, é atleta conhecido internacionalmente.
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Quem também está trilhando esse caminho é o jovem Jefferson Bill. Aos
22 anos, Bill está a um passo de se tornar profissional. “Já participei e
ganhei vários campeonatos, viajei para Barcelona, Praga, Roma, e devo assinar
contrato em breve”, diz. Jefferson, que conta ter sido bastante influenciado
pelo pai, o espeitado skatista Alexandre Dota.
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Quanto à prática do esporte pelas meninas, Massote explica que houve um avanço importante, mas que o percentual de garotas em cima do skate ainda não é tão significativo. “O Brasil tem grandes skatistas profissionais que são mulheres, como a Letícia Bufoni. Mas isso não reflete uma porcentagem relevante no total de praticantes do esporte. Atualmente, por exemplo, apenas cerca de 10% dos alunos da Blunt são meninas”, conta. Caso de Caroline Gonçalves, de 8 anos. Ela faz aulas na Blunt há pouco mais de um mês e diz que adora. “Eu comecei por causa do meu irmão e ainda estou aprendendo a descer as rampas”, conta Caroline, a mais radical entre os trigêmeos Rodrigo e Isabele Gonçalves. Só falta convencer Isabele a entrar para o time da família.
Para John, do Pato Fu, o legal do skate é que não importa muito essa história de amadores e profissionais, menino ou menina. “Andamos juntos e todo mundo se diverte em qualquer nível”.
Por: Raíssa Pena
Fonte:
revistaencontro
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