Morador de comunidade carente do Rio, Paulo
Bananada disputa cinturão interino do Wocs na sexta-feira e segue para os EUA
para virar professor
Na próxima sexta-feira, o carioca Paulo Bananada entra
no cage do Wocs 27, no Rio de Janeiro, para disputar o cinturão interino dos
pesos-leves contra Andrews Tigrão com um alvo no peito. Não só por ser
considerado um dos melhores lutadores da categoria no país, mas também por ser
sparring e "protegido" de Anderson Silva. Conhecer o Spider
abriu portas e os olhos de adversários para o atleta da Team Nogueira/XGym, que
graças ao amigo famoso vislumbra a possibilidade de fazer carreira no exterior
e deixar a rotina difícil em que vive no Rio de Janeiro, com lutas em sequência
e longos deslocamentos diários entre muitas academias e sua casa no subúrbio da
cidade. Chegar até aqui, porém, envolveu uma vitória maior sobre as
dificuldades que se abatem sobre menores de comunidades carentes.
Bananada,
ou Paulo Gonçalves Silva, nasceu no Rio de Janeiro, mas morou na Paraíba até os
nove anos de idade. Quando voltou para a capital fluminense, sua família se
estabeleceu na comunidade da Chacrinha, na Zona Oeste da cidade. Aos 11 anos,
passou a praticar jiu-jítsu com um dos moradores da área, professor da academia
Gracie Barra que dava aulas para crianças locais, na intenção de afastá-las do
tráfico. Quando este professor deixou a favela, porém, Bananada largou o
esporte e passou a ser atraído pelo crime. Aos 14 anos, começou a traficar
armas.
- Sempre
gostei de armas. No interior do Nordeste, por falta de conhecimento, não
precisa de permissão para usar armas. Todo mundo usava armas, até para a
própria defesa. Muitas vezes, a polícia pede socorro para as pessoas que
"têm coragem" ajudarem - lembra.
Apesar do
apelo das armas e da atividade ilegal, Bananada ainda se manteve longe das
drogas e jamais comprava ou vendia para traficantes. Vendia, porém, para
usuários, o que começou a lhe incomodar. Quando uma namorada engravidou de
Pablo, seu primeiro e único filho, foi o fator decisivo para deixar a carreira
criminosa, que durou cerca de dois anos.
- Vi que
era furada. É dinheiro fácil, mas pode morrer fácil também. Não estou a fim de
morrer e deixar meu filho por aí. Ele podia morrer devido a uma pessoa que
comprou arma comigo e fez besteira. Meu filho foi a coisa que mais pesou para
mim. O olhar de um cara quando vendi uma arma me fez sentir que, para esse tipo
de gente, o dinheiro vale mais que a amizade - explica.
“Escutei aquela voz e pensei, 'Po, Anderson está
contra mim? Não pode!' Mas voltei ao foco e
ficava ligado em tudo que ele
falava. Ele gritou, 'Rambinho, marca o jab dele e cruza em cima!' Pensei:
'Vou ameaçar o jab e vou cruzar em cima dele'. Deu certo. Ele caiu e nocauteei
no ground and pound. Depois, fui lá e agradeci" Sobre como conheceu SpiderPara sustentar a si mesmo e à nova família, Bananada teve que parar de estudar e "se virar nos 30". Foi pedreiro - ainda ajuda amigos a construírem novos barracos pela Chacrinha, onde mora até hoje - pasteleiro, segurança, guardião de piscinas, balconista da escola de samba Renascer. Foi nessa escola, também, que ele voltou a praticar e competir no jiu-jítsu, aos 17.
Na
"arte suave", o lutador reencontrou sua paz e seu dom, mas, ao mesmo
tempo, se frustrou com alguns resultados negativos ("Pagava para competir
e era roubado, ou seja, pagava para ser roubado", reclama). Foi no
vale-tudo e no MMA que se descobriu. Bananada passou a treinar na TFT e logo se
tornou um dos destaques do Rio Heroes, polêmico torneio que seguia a fórmula
antiga: sem luvas, com as únicas regras de proibir puxar o cabelo, morder,
golpe na coluna ou região íntima e colocar dedo no olho. O carioca protagonizou
luta sangrenta contra Udi Lima e um longo combate com Márcio "Zé
Pequeno" - listado oficialmente em 23m11s, mas que segundo ele durou mais
de 45 minutos - e viu ali que tinha jeito para a coisa.
Aos
poucos, Bananada foi encontrando seu caminho pelo esporte e, entre janeiro de
2009 e setembro de 2012, venceu 12 lutas consecutivas, incluindo a conquista de
cinturões no Wocs (vago após não acertar termos para defendê-lo), Shooto e
Coliseu Extreme Fight. No meio dessa sequência, conheceu Anderson Silva numa
situação curiosa. O então campeão dos pesos-médios do UFC era córner de seu
adversário, Paulo Rambinho, no Face to Face 2, evento realizado no CT dos
irmãos Nogueira em outubro de 2009.
- Escutei
aquela voz que a gente conhece fácil, e pensei, "Po, Anderson está contra
mim? Não pode não!" (risos) Mas voltei ao foco rápido e ficava ligado em
tudo que ele falava. Aí ele gritou, "Rambinho, marca o jab dele e cruza em
cima!" O Rambinho parou na minha frente esperando. Pensei: "Vou
ameaçar o jab e eu vou cruzar em cima dele". Quando mexi o ombro e ele fez
menção de se mexer, cruzei e deu certo. Ele caiu e eu nocauteei no ground and
pound. Depois, fui lá e agradeci a ele (Anderson). Ele riu e tirou uma foto
comigo - conta o lutador.
Poucos meses depois, os dois virariam companheiros de
time quando Bananada, desanimado com a falta de estrutura e comprometimento que
percebia na TFT, decidiu se mudar para a Team Nogueira, cujo treinador de boxe,
Edélson Silva, já trabalhava com ele. Mais tarde, o peso-leve passou a
frequentar também a XGym, levado por um amigo americano, e logo foi acolhido
por Anderson como um de seus parceiros de treino. A sintonia foi tanta que ele
foi chamado pelo ídolo para viajar aos EUA, com todas as despesas pagas, e
ajudá-lo na preparação para a luta contra Vitor Belfort, em 2011.
- Eu nem
acreditei, só fui acreditar quando a passagem chegou e vi que era real. Foi
irado, inesquecível. Desde essa época, ele já estava treinando o chute frontal
para o Vitor, eu tenho os vídeos aqui até hoje. Ele treinava bastante aquilo,
repetia, e ensinava - lembra.
Foram
quatro meses nos EUA, dois deles morando na casa de Anderson Silva. Desde
então, essas viagens ficaram mais frequentes: de 2011 para cá, foram quatro, e
o ex-campeão arrumou até lutas para o amigo em eventos americanos, no Arizona e
no Havaí. Na última viagem, Bananada foi à inauguração da Muay Thai College,
academia do Spider em Los Angeles, que pode ser a porta de entrada para uma
mudança em definitvo para os EUA. Ele já foi convidado pelo amigo para atuar
como professor de jiu-jítsu no local e alavancar a carreira internacional.
O plano é seguir viagem no final do ano. Por ora, Bananada segue se virando como é comum no cenário nacional de MMA. Diariamente, passa uma hora no trânsito para chegar à XGym. Depois de duas horas de treino, faz a preparação física na TFT. Mais uma hora e meia no ônibus e chega ao Tanque, na Zona Oeste da cidade, onde treina muay thai. Mal sobra tempo para curtir o filho, hoje com 13 anos, e a namorada, mas, pelo menos, graças aos patrocínios de uma marca de suplementação alimentar e uma marca de roupas, não precisa de um outro emprego. Mesmo assim, pega lutas em sequência para completar a renda. Após a luta com Andrews Tigrão nesta sexta, defende o cinturão do Coliseu em Maceió contra Gilbert Durinho em 6 de setembro, e mais tarde segue para o Chile para mais um combate, em outubro.
- São
poucos eventos que valorizam os atletas e, por isso mesmo, fiquei um tempo sem
lutar por aqui, preferi lutar lá fora, para poder lutar num evento que valorize
e que a grana seja justa para as duas partes. Quem tem patrocínio, pode se dar
a esse luxo de escolher. Quem não tem, ou aceita lutar por merreca, ou fica sem
lutar - lamenta o lutador.
Dos três
duelos pela frente, Bananada se mostra concentrado na reconquista do cinturão
do Wocs, em que enfrenta Andrews Tigrão após uma contusão sofrida por Giovanni
Diniz, mas não esconde que está motivado para enfrentar Gilbert Durinho, que é
treinador de jiu-jítsu de Vitor Belfort - justamente o homem para quem Bananada
ajudou Anderson a se preparar.
- O
Tigrão é um grappler (especialista na luta agarrada), troca também, mas minha
expectativa é ir para finalizar, assim como quero fazer a luta de solo com o
Durinho. Vou pegar três grapplers pela frente, dois brasileiros e um chileno.
Acho que essas lutas vão acabar no jiu-jítsu. Seria interessante pegar o
Tigrão, que é de Manaus e é aluno do Dedé Pederneiras na Nova União, duas boas
escolas de jiu-jítsu, e depois pegar o Durinho, campeão mundial, no chão, que é
onde ele é bom, onde ele é melhor. Seria legal - sorri Bananada.
O Wocs 27 acontece na próxima sexta-feira, no clube A
Hebraica, no Rio de Janeiro. O canalCombate transmite
o evento na íntegra, ao vivo, a partir de 20h (horário de Brasília). O SporTVexibe o card principal a partir de
22h. Confira o card na íntegra:
Wocs 27
2 de agosto de 2013, no Rio de Janeiro
CARD PRINCIPAL
Andrews Tigrão x Paulo Bananada
Alexandre "Baixinho x Thiago Jambo
Luis "Betão" Nogueira x Francisco De Assis
Fabiano "Bob Esponja" x Bruno "Robusto"
Julian "Jabba" x Francinei Farinazzo
Fernando Camoles x Wagner "Vagão"
CARD PRELIMINAR
Alex Cowboy x Bruno da Rosa
Erivaldo Santos x Felipe de Jesus
Carlos Alberto "Lobo" x Marcos Nene
André Lourenço x Antonio Alves
Wellington Pierre x Gabriel Timoteo
2 de agosto de 2013, no Rio de Janeiro
CARD PRINCIPAL
Andrews Tigrão x Paulo Bananada
Alexandre "Baixinho x Thiago Jambo
Luis "Betão" Nogueira x Francisco De Assis
Fabiano "Bob Esponja" x Bruno "Robusto"
Julian "Jabba" x Francinei Farinazzo
Fernando Camoles x Wagner "Vagão"
CARD PRELIMINAR
Alex Cowboy x Bruno da Rosa
Erivaldo Santos x Felipe de Jesus
Carlos Alberto "Lobo" x Marcos Nene
André Lourenço x Antonio Alves
Wellington Pierre x Gabriel Timoteo
Por: Adriano Albuquerque
Fonte: Sportv
Foto: Divulgação
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