terça-feira, 30 de julho de 2013

Ex-traficante de armas, lutador muda de vida e torna-se protegido de Spider

Morador de comunidade carente do Rio, Paulo Bananada disputa cinturão interino do Wocs na sexta-feira e segue para os EUA para virar professor

Na próxima sexta-feira, o carioca Paulo Bananada entra no cage do Wocs 27, no Rio de Janeiro, para disputar o cinturão interino dos pesos-leves contra Andrews Tigrão com um alvo no peito. Não só por ser considerado um dos melhores lutadores da categoria no país, mas também por ser sparring e "protegido" de Anderson Silva. Conhecer o Spider abriu portas e os olhos de adversários para o atleta da Team Nogueira/XGym, que graças ao amigo famoso vislumbra a possibilidade de fazer carreira no exterior e deixar a rotina difícil em que vive no Rio de Janeiro, com lutas em sequência e longos deslocamentos diários entre muitas academias e sua casa no subúrbio da cidade. Chegar até aqui, porém, envolveu uma vitória maior sobre as dificuldades que se abatem sobre menores de comunidades carentes.

Bananada, ou Paulo Gonçalves Silva, nasceu no Rio de Janeiro, mas morou na Paraíba até os nove anos de idade. Quando voltou para a capital fluminense, sua família se estabeleceu na comunidade da Chacrinha, na Zona Oeste da cidade. Aos 11 anos, passou a praticar jiu-jítsu com um dos moradores da área, professor da academia Gracie Barra que dava aulas para crianças locais, na intenção de afastá-las do tráfico. Quando este professor deixou a favela, porém, Bananada largou o esporte e passou a ser atraído pelo crime. Aos 14 anos, começou a traficar armas.
- Sempre gostei de armas. No interior do Nordeste, por falta de conhecimento, não precisa de permissão para usar armas. Todo mundo usava armas, até para a própria defesa. Muitas vezes, a polícia pede socorro para as pessoas que "têm coragem" ajudarem - lembra.
Apesar do apelo das armas e da atividade ilegal, Bananada ainda se manteve longe das drogas e jamais comprava ou vendia para traficantes. Vendia, porém, para usuários, o que começou a lhe incomodar. Quando uma namorada engravidou de Pablo, seu primeiro e único filho, foi o fator decisivo para deixar a carreira criminosa, que durou cerca de dois anos.
- Vi que era furada. É dinheiro fácil, mas pode morrer fácil também. Não estou a fim de morrer e deixar meu filho por aí. Ele podia morrer devido a uma pessoa que comprou arma comigo e fez besteira. Meu filho foi a coisa que mais pesou para mim. O olhar de um cara quando vendi uma arma me fez sentir que, para esse tipo de gente, o dinheiro vale mais que a amizade - explica.

“Escutei aquela voz e pensei, 'Po, Anderson está contra mim? Não pode!' Mas voltei ao foco e
ficava ligado em tudo que ele falava. Ele gritou, 'Rambinho, marca o jab dele e cruza em cima!'  Pensei: 'Vou ameaçar o jab e vou cruzar em cima dele'. Deu certo. Ele caiu e nocauteei no ground and pound. Depois, fui lá e agradeci" Sobre como conheceu Spider


Para sustentar a si mesmo e à nova família, Bananada teve que parar de estudar e "se virar nos 30". Foi pedreiro - ainda ajuda amigos a construírem novos barracos pela Chacrinha, onde mora até hoje - pasteleiro, segurança, guardião de piscinas, balconista da escola de samba Renascer. Foi nessa escola, também, que ele voltou a praticar e competir no jiu-jítsu, aos 17.

Na "arte suave", o lutador reencontrou sua paz e seu dom, mas, ao mesmo tempo, se frustrou com alguns resultados negativos ("Pagava para competir e era roubado, ou seja, pagava para ser roubado", reclama). Foi no vale-tudo e no MMA que se descobriu. Bananada passou a treinar na TFT e logo se tornou um dos destaques do Rio Heroes, polêmico torneio que seguia a fórmula antiga: sem luvas, com as únicas regras de proibir puxar o cabelo, morder, golpe na coluna ou região íntima e colocar dedo no olho. O carioca protagonizou luta sangrenta contra Udi Lima e um longo combate com Márcio "Zé Pequeno" - listado oficialmente em 23m11s, mas que segundo ele durou mais de 45 minutos - e viu ali que tinha jeito para a coisa.
Aos poucos, Bananada foi encontrando seu caminho pelo esporte e, entre janeiro de 2009 e setembro de 2012, venceu 12 lutas consecutivas, incluindo a conquista de cinturões no Wocs (vago após não acertar termos para defendê-lo), Shooto e Coliseu Extreme Fight. No meio dessa sequência, conheceu Anderson Silva numa situação curiosa. O então campeão dos pesos-médios do UFC era córner de seu adversário, Paulo Rambinho, no Face to Face 2, evento realizado no CT dos irmãos Nogueira em outubro de 2009.
- Escutei aquela voz que a gente conhece fácil, e pensei, "Po, Anderson está contra mim? Não pode não!" (risos) Mas voltei ao foco rápido e ficava ligado em tudo que ele falava. Aí ele gritou, "Rambinho, marca o jab dele e cruza em cima!"  O Rambinho parou na minha frente esperando. Pensei: "Vou ameaçar o jab e eu vou cruzar em cima dele". Quando mexi o ombro e ele fez menção de se mexer, cruzei e deu certo. Ele caiu e eu nocauteei no ground and pound. Depois, fui lá e agradeci a ele (Anderson). Ele riu e tirou uma foto comigo - conta o lutador.

Poucos meses depois, os dois virariam companheiros de time quando Bananada, desanimado com a falta de estrutura e comprometimento que percebia na TFT, decidiu se mudar para a Team Nogueira, cujo treinador de boxe, Edélson Silva, já trabalhava com ele. Mais tarde, o peso-leve passou a frequentar também a XGym, levado por um amigo americano, e logo foi acolhido por Anderson como um de seus parceiros de treino. A sintonia foi tanta que ele foi chamado pelo ídolo para viajar aos EUA, com todas as despesas pagas, e ajudá-lo na preparação para a luta contra Vitor Belfort, em 2011.
- Eu nem acreditei, só fui acreditar quando a passagem chegou e vi que era real. Foi irado, inesquecível. Desde essa época, ele já estava treinando o chute frontal para o Vitor, eu tenho os vídeos aqui até hoje. Ele treinava bastante aquilo, repetia, e ensinava - lembra.
Foram quatro meses nos EUA, dois deles morando na casa de Anderson Silva. Desde então, essas viagens ficaram mais frequentes: de 2011 para cá, foram quatro, e o ex-campeão arrumou até lutas para o amigo em eventos americanos, no Arizona e no Havaí. Na última viagem, Bananada foi à inauguração da Muay Thai College, academia do Spider em Los Angeles, que pode ser a porta de entrada para uma mudança em definitvo para os EUA. Ele já foi convidado pelo amigo para atuar como professor de jiu-jítsu no local e alavancar a carreira internacional.


O plano é seguir viagem no final do ano. Por ora, Bananada segue se virando como é comum no cenário nacional de MMA. Diariamente, passa uma hora no trânsito para chegar à XGym. Depois de duas horas de treino, faz a preparação física na TFT. Mais uma hora e meia no ônibus e chega ao Tanque, na Zona Oeste da cidade, onde treina muay thai. Mal sobra tempo para curtir o filho, hoje com 13 anos, e a namorada, mas, pelo menos, graças aos patrocínios de uma marca de suplementação alimentar e uma marca de roupas, não precisa de um outro emprego. Mesmo assim, pega lutas em sequência para completar a renda. Após a luta com Andrews Tigrão nesta sexta, defende o cinturão do Coliseu em Maceió contra Gilbert Durinho em 6 de setembro, e mais tarde segue para o Chile para mais um combate, em outubro.
- São poucos eventos que valorizam os atletas e, por isso mesmo, fiquei um tempo sem lutar por aqui, preferi lutar lá fora, para poder lutar num evento que valorize e que a grana seja justa para as duas partes. Quem tem patrocínio, pode se dar a esse luxo de escolher. Quem não tem, ou aceita lutar por merreca, ou fica sem lutar - lamenta o lutador.
Dos três duelos pela frente, Bananada se mostra concentrado na reconquista do cinturão do Wocs, em que enfrenta Andrews Tigrão após uma contusão sofrida por Giovanni Diniz, mas não esconde que está motivado para enfrentar Gilbert Durinho, que é treinador de jiu-jítsu de Vitor Belfort - justamente o homem para quem Bananada ajudou Anderson a se preparar.
- O Tigrão é um grappler (especialista na luta agarrada), troca também, mas minha expectativa é ir para finalizar, assim como quero fazer a luta de solo com o Durinho. Vou pegar três grapplers pela frente, dois brasileiros e um chileno. Acho que essas lutas vão acabar no jiu-jítsu. Seria interessante pegar o Tigrão, que é de Manaus e é aluno do Dedé Pederneiras na Nova União, duas boas escolas de jiu-jítsu, e depois pegar o Durinho, campeão mundial, no chão, que é onde ele é bom, onde ele é melhor. Seria legal - sorri Bananada.

O Wocs 27 acontece na próxima sexta-feira, no clube A Hebraica, no Rio de Janeiro. O canalCombate transmite o evento na íntegra, ao vivo, a partir de 20h (horário de Brasília). O SporTVexibe o card principal a partir de 22h. Confira o card na íntegra:

Wocs 27
2 de agosto de 2013, no Rio de Janeiro
CARD PRINCIPAL
Andrews Tigrão x Paulo Bananada
Alexandre "Baixinho x Thiago Jambo
Luis "Betão" Nogueira x Francisco De Assis
Fabiano "Bob Esponja" x Bruno "Robusto"
Julian "Jabba" x Francinei Farinazzo
Fernando Camoles x Wagner "Vagão"
CARD PRELIMINAR
Alex Cowboy x Bruno da Rosa
Erivaldo Santos x Felipe de Jesus
Carlos Alberto "Lobo" x Marcos Nene
André Lourenço x Antonio Alves
Wellington Pierre x Gabriel Timoteo




Por: Adriano Albuquerque
Fonte: Sportv
Foto: Divulgação



Nenhum comentário: